sexta-feira, 3 de julho de 2009

Aproximação do Real

Autora: Paloma Marquez

Em minha avaliação final, citarei os dois filmes que me fizeram sair da aula de aula e continuar pensando neles e questionar de forma critíca pela sua forma e conteúdo: “Os Idiótas”, de 1998 dirigido por Lars Von Trier e “Serras da Desordem”, de 2006 dirigido por Andrea Tonacci, em contrapartida com o texto “O choque do Real”.

O filme de Lars Von Trier é uma experiência e tanto, onde basta assistir e entrar na loucura estabelecida pelo grupo que se isola na busca de entender a loucura e a forma como as pessoas lidam com o choque entre o mundo real e o mundo da loucura, onde um grupo de pessoas junta-se numa casa e dedicam-se a procurar o idiota que está dentro de cada um, entrando em "paranóia", babando-se e passando em público por verdadeiros deficientes mentais, como forma de se libertarem dos seus problemas e de chocarem as instituições burguesas. O filme nos confunde o tempo todo, pois não fica claro se é realidade ou ficção. Se os atores estão atuando com outros atores ou as reais instituições burquesas. Depois de um certo período, chega a altura do exame, isto é, de levar a loucura para o meio "normal" do qual tiraram férias. A forma é tão pura (luz, som, figurino, cenários, caracterização dos personagens) e seu conteúdo tão envolvente que nos faz sentir dentro do filme. Intenção principal do Dogma 95, criado pelo diretor, entre outros, este que contém exigências muito particulares que se agrupam numa espécie de dez mandamentos afim de fazer um cinema com conteúdo e poucos recursos. E o experimentalismo no cinema é sempre bem vindo, nem que seja para variar um pouco da convenções estabelecidas. Dentre elas: não filmar em estúdio, não usar adereços de cena, não gravar som separado da imagem, não colocar a câmara num suporte, filmar em cor sem utilização de iluminação especial, sem filtros ou tratamento óptico, sem ação superficial (homicídios, armas, etc), no tempo presente (sem "alienação geográfica e temporal"), filmes de gênero estão proibidos, o formato é Academia 35mm (o formato clássico, praticamente idêntico ao da TV), o realizador não pode ser creditado.

Se não fosse pela última condição, o segundo filme que vou citar poderia estar na condição de receber um reconhecimento do Dogma 95. “Serras da Desordem” conta, sob o olhar muito específico do autor, a história de Carapirú, um índio nômade que escapa de um ataque surpresa de fazendeiros. Durante 10 anos ele perambulou sozinho pelas serras do Brasil central, até ser capturado à 2000 km de distância de sua fuga inicial. Levado a Brasília pelo sertanista Sydney Ferreira Possuelo, virou manchete em todo país e centro de uma polêmica entre antropólogos e lingüistas em relação à sua origem e identidade. Na tentativa de identificar sua origem ele reencontra um filho, com quem retorna ao Maranhão. Porém o que Carapirú encontra ao retornar já não está mais de acordo com sua vida nômade. Toda essa história é contada através de uma real representação da realidade. Muitos personagens que viveram a história na época (década de 90) participa do filme. Na minha opinião isso fica bem claro, pois o filme é bem arrastado e fácil perceber que aqueles personagens estão atuando e não é apenas um documentário. Existe ficção. Carapirú é exposto, por vontade própria, ao exibir toda a sua ingenuidade diante das coisas comuns para a sociedade.

Fazendo um paralelo entre as histórias e o texto, analisei que em ambos os filmes o os diretores demonstram que choque com o real transforma e que esse tipo de cinema, que mistura documentário com ficção, é muito próximo do real humano. Vivemos essas situações constantemente entre realidade e atuação. No fundo, o grupo de idiotas de Lãs Von Trier, que se procura livrar da racionalidade que lhes permite viver em sociedade, é constituído por pessoas buscando o choque da sociedade (dinamarquesa) ao se deparar com a problemática mental e acabam enlouquecendo ao final (realidade? Não sabemos mais uma vez) e o índio Carapirú que se choca ao se deparar com uma realidade desconhecida e tão interessante, que o faz se envolver a ponto de se modificar e perceber isso no momento em que retorna para sua aldeia.

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